Incapacidade

“Desse vazio que eu mesmo escolhi comer”…

Acabo de chegar em casa e as lágrimas querem sair. São nesses momentos que me sinto incapaz. E não, não digo respeito a coisas clichês. Me refiro ao real, ao palpável.

Saíamos e do outro lado da cerca a epifania. Assalto. Gritos, mas mesmo assim todos continuavam a dirigir seus carros na rua.

Saímos e nos sentimos incapazes, reféns de um crime, reféns de nós mesmos. Somos humanos e são nesses momentos que o percebemos. Somos humanos e o grito se torna falho, somos humanos e assim como papel, frágeis.

Um segundo estamos bem, no outro, bam, não temos mais nada.

Somos reféns, somos incapazes de liberdade.

Um corte.

Houve aula sobre liberdade, mas será que somos livres? Não. 

Será que podemos escolher? Não.

Incapaz de chegar em casa vivo.

A cada dia que passa morremos um pouco mais, a cada dia que passa a sociedade nos mostra que viver é impossível.

Uma grade nos separava. Gritos. Diferença.

O que posso eu fazer?

n

a

d

a.

Indignação por perceber que nada somos e no fim, nada temos.

Lágrimas?

“As grades do condomínio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você quem está nessa prisão”.

E hoje a noite se assemelha veemente aos contos infantis, onde os monstros saem para caça. Nós somos presas de nossa própria espécie.

E nesse meio o amor se perde, a alegria se perde, a vida se perde. Os amantes se largam. O medo reina. Vivemos para passar por campos minados diários, rezando aos nossos deuses por piedade, rezando para sermos salvos por mais um dia. Vivemos para tentar chegar à casa. Para terminarmos mais um dia vivos. Vivemos?

Há uma festa repleta de ódio e vingança e nós somos o alimento. Há o corrompido. Não há paz. 

Os jornais, ao declararem mais um assalto, mais um homicídio, se tornam reality shows. Nós somos o palco, as vítimas destes jurados da morte.

Somos frágeis como papeis. Somos peças descartáveis. Somos o que temos, mas a um passo não temos mais nada. Somos algo, então?

não peço a cabeça do rei, mas a paz. Paz para nós. Paz para sair e viver. Não uma luta por sobrevivência.

Uma guerra por mais amor.

Por paz.

Por tudo aquilo, que hoje percebo, que não temos.

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